HISTÓRIA DA MÚSICA EL RELOJ
É difícil encontrar alguém que não conheça ou não tenha ouvido a música “Boate Azul”, de Benedito Seviéro (falecido recentemente), um dos maiores compositores da música romântica e boêmia do país. Entretanto, o que poucos sabem é que o clássico, eternizado na voz da dupla Joaquim e Manuel, na década de 1980 e cantada por praticamente todas as duplas em shows, foi inspirado duas décadas antes e segundo o próprio autor, em uma casa noturna de Apucarana e não numa boate de cidade grande como se pensava.
Conta o compositor – “Eu estava acompanhando o cantor José Lopes, muito famoso na década de 1950, que faria um show na boate Blue Night, da dona Dirce, em Apucarana. Porém, o papa João XXIII morreu naquele dia e o show foi cancelado”, recorda. O papa João XXIII morreu vítima de câncer em 3 de junho de 1963.
Lembra-se que muitas pessoas aguardavam a apresentação na casa noturna. “A Blue Night ficava localizada, naquela época, cerca de 3 quilômetros fora da cidade, às margens da rodovia”. Apesar da pressão do público, naquele dia o show não pode continuar. “A polícia proibiu a apresentação em respeito à morte do papa, mas os frequentadores estavam todos de ‘fogo’ e não queriam ir embora. Eles ficaram lá sem saber para onde ir, bêbados. Foi inspirado naquela cena que, três meses depois, que resolvi escrever ‘Boate Azul’”.
Para quem não lembra, o refrão da música diz: – “Sair de que jeito, se nem sei o rumo para onde vou, muito vagamente me lembro que estou em uma boate aqui na zona sul. Eu bebi demais e não consigo me lembrar sequer, qual era o nome daquela mulher, a flor da noite na boate azul”. Por incrível que pareça, a morte de um papa acabou, por via oblíqua, inspirando uma das canções mais lembradas do Brasil. A história seguinte é mais dramática.
O autor de “La Barca” e “El Reloj” (O Relógio) é o mexicano Roberto Cantoral, que faleceu em 2010 aos 75 anos de idade. A primeira gravação de “El Reloj”, é de 1957 e desde então foi gravada por centenas de cantores mundo afora e, no Brasil imortalizada na vozes de Altemar Dutra, Adilson Ramos, Roberto Luna e Trio Irakitan. É uma das músicas mais conhecidas no mundo todo e grande parte da geração sessenta e setenta conhece a letra de cor, mas poucos conhecem a sua história. Na verdade, “El Reloj” é uma canção muito sofrida e atormentada e a explicação é que o compositor Cantoral escreveu a letra num hospital, onde sua mulher estava internada e seria operada nas primeiras horas da manhã. Os médicos haviam lhe dito que o quadro era extremamente grave e havia poucas chances de sucesso na cirurgia. Observem a letra da canção: – “Relógio, não marques as horas porque vou enlouquecer, ela irá para sempre, quando amanhecer outra vez.
Mas nos temos esta noite, para viver nosso amor, e teu tic-tac recorda minha irremediável dor. Relógio, pare teu caminho, porque minha vida se apaga, ela é uma estrela que ilumina meu ser e, sem o seu amor não sou nada. Detém o tempo em tuas mãos, faz esta noite perpétua, para que nunca se vá de mim, para que nunca amanheça.” – Faz todo o sentido. A melodia se encaixa na letra com perfeição e o resultado é uma canção pungente, emocionada, sofrida, suplicante. O episódio de que fala a música se passou no Hospital de Beneficência Espanhola de Tampico, onde havia um grande relógio na parede. “El Reloj”, mostra o sofrimento e a angústia do amante com a doença da amada. Não se conhece o nome da mulher, nem do diagnóstico de tão grave moléstia e muito menos do desfecho da cirurgia.
A triste história é mais uma lenda urbana. “El Reloj” foi composto em 1956, numa excursão aos EUA do Trio Los Caballeros, do qual o compositor, então com 21 anos, participava. Uma simples canção romântica, que Los Caballeros gravaram no ano seguinte. É a angústia e o sofrimento tocando a alma humana e fazendo esta se expressar em forma de canção escrita com lagrimas de dor.
Reloj, no marques las horas
porque voy a enloquecer,
ella se irá para siempre
cuando amanezca otra vez.
No más nos queda esta noche
para vivir nuestro amor,
y tu tic-tac me recuerda
mi irremediable dolor.
Reloj, detén tu caminho
porque mi vida se apaga,
ella es la estrella que alumbra mi ser
yo sin su amor no soy nada.
Detén el tiempo en tus manos,
haz esta noche perpetua,
para que nunca se vaya de mí,
para que nunca amanezca.
Faz todo o sentido. A melodia se encaixa na letra com perfeição e o resultado é uma canção pungente, emocionada, sofrida, suplicante. Em tempos de Google, era imperativo ir atrás dessa história e encontrei inúmeros relatos que a confirmavam. Alguns sites até dão o nome da casa de saúde: Hospital de Beneficencia Espanõla de Tampico, onde havia um grande relógio na parede. Para o Google, El Reloj mostra o sofrimento e a angústia do amante com doença da amada.
Só que não. Não existe nada na biografia de Cantoral sobre isso. Não existe o nome da mulher e nem do diagnóstico de tão grave moléstia. Muito menos do desfecho da cirurgia. A triste história é mais uma lenda urbana. El Reloj foi composto em 1956, numa excursão aos EUA do Trio Los Caballeros, do qual o compositor, então com 21 anos, participava. Uma simples canção romântica, que Los Caballeros gravaram no ano seguinte.